sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ladeira moral

Luiz subia a ladeira como se a ladeira não existisse.
Empurrava uma carreta lotada de papelão molhado pela chuva.
Me arrependo de ter olhado-o de novo.
Com tanta coisa pra roubar, tanto ódio para nos mostrar, Luiz preferiu catar papelão, colocar na carreta e vender. Luiz não vende sua alma ao demônio por dois motivos: o primeiro motivo é piegas, o segundo é porque o Gabiru não se interessa.
Mas que diabos!, por que esse homem não vai roubar? De onde ele tira coragem para enfrentar essa chuva sarcástica? A mesma chuva que me trancaria dias em casa, lavava a alma de Luiz.
Por que olho pro pobre diabo e sinto inveja do seu caráter? Eu que me pego fazendo concessões às meias verdades em nome do ganha pão.
Por que não sacou uma arma qualquer e me ameaçou? “Leva tudo, Luiz. Leva minha fraqueza.”
Por que não me deu seu olhar pedinte, sofrido? Por que ao invés disso, pisou firme como um soldado romano, convicto do seu caminho?
Por que não me deu a chance de satisfazer meu desejo egoísta de ajudá-lo?

Luiz subia a ladeira. A ladeira não subia nele.

Minha consciência está pesada, molhada pela chuva. Luiz, me ajuda a subir essa ladeira, por Deus.


Texto de André Barreiros.

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