Apesar da crescente importância do consumo popular, muitas marcas ainda patinam na hora de se comunicar com os brasileiros de baixa renda. Um dos principais obstáculos que elas enfrentam é a dissonância entre o padrao estético dos seus profissionais de marketing e publicidade e o gosto do povao. Em outras palavras, o que é bonito para quem controla a comunicaçao nem sempre é também apreciado por esse público-alvo.
Para ajudar a corrigir o problema, a consultoria A Ponte, de André Torreta e Carol Escorel, especializada no segmento BoP (Bottom of Pyramid), colocou câmaras nas maos de moradores das periferias de SP e pediu que eles fotografassem as coisas bonitas que viam no dia a dia. Os resultados dessa pesquisa pouco convencional derrubaram alguns mitos, em especial a tese de que os mais pobres gostam de ver pessoas louras de olhos azuis anunciando produtos baratos, porque aspiram ser como elas. Entre outras coisas, o estudo descobriu que o povo está um pouco cansado de se submeter aos padroes atuais de beleza. Prova disso é que a atriz de TV negra Thais Araújo foi bem mais citada como exemplo do belo do que Gisele Bundchen. A idéia de que a base da pirâmide nao acha feio o que é espelho, passa também pela valorizaçao do bairro de moradia. Isso explica, por exemplo, porque muitos dos que ascendem financeiramente continuam morando na mesma regiao de antes. A relaçao entre acesso e beleza foi outra descoberta da Ponte - a baixa renda tende a considerar mais belo o que está ao seu alcance.
Ainda de acordo com a pesquisa, a estética popular valoriza o uso de cores variadas e vivas e está repleta de referências ao hip hop, ao grafite e ao streetwear. Essa gente humilde gosta também de se ver na comunicaçao das marcas e aprecia bastante o que é familiar, de letreiros de lojas presentes em locais próximos as suas casas a propagandas de produtos que integram suas listas de compras. Eles adoram marcas conhecidas, mas duvidam de testemunhais inverossímeis. Em resumo, a estética dos brasileiros de menor poder aquisitivo é sim influenciada pelo universo da elite nacional, reproduzida inclusive pelas novelas da TV, mas também retrata a realidade do seu mundo. Para falar a linguagem do povo, os profissionais encarregados de fazer a comunicaçao das marcas devem esquecer um pouco as suas próprias referências culturais e mergulhar de cabeça nessa fascinante colcha de retalhos popular - a recompensa pode ser bem valiosa.
Luiz Alberto Marinho para o Bluebus
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
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