domingo, 14 de dezembro de 2008

Filé bem passado. Coluna estréia com a Pagú Propaganda.

Se você ainda não conhece a Pagú Propaganda é sinal que precisa se ligar mais no que acontece no mercado local. E para isso você pode contar com o Filé 060, que foi até a Pagú para ter uma rápida conversa e conhecer um pouco mais dessa agência que nem completou o seu primeiro ano de existência, mas que já foi brilhar em São Paulo ao lado de agências do porte da Lew,Lara/TBWA no Prêmio ANJ. Feito inédito para uma agência de Goiânia. Mas não é só a qualidade criativa da Pagú que impressiona. A pouca idade das suas duas sócias Sussy Côrtes (24) e Ana Luiza Magalhães (26) também chama a atenção e o fato de se promoverem de estagiárias a empresárias em tão pouco tempo, mostra também o espírito empreendedor da dupla. Uma agência que pendura nas estantes das paredes não anuários de propaganda e sim livros de arte e boa literatura. O Filé 060 foi gentilmente recebido pela sócia e diretora de criação Sussy Côrtes, que falou para a coluna Bem Passado, que vai trazer sempre um pouco sobre uma agência do nosso mercado. Saboreie à vontade.

Como foi que pintou a oportunidade de vocês abrirem a Pagú?

Essa é até uma história engraçada quando perguntam, porque eu e a Ana costumamos dizer que nós sonhamos sem camisinha e aí nasceu a Pagú. E isso é a até uma idéia que a gente está pensando em trabalhar ano que vem como conceito da agência. Uma vez, a gente conversando com o André (André Barreiros, redator da Matisse em Brasília) e o Rafael (Rafael Barreiros, irmão do André, redator e ex-Jordão Publicidade), eles perguntaram como é que tão novas, montamos uma agência, porque não esperamos mais um pouco. E essa foi a resposta. A gente sonhou sem camisinha e aconteceu a Pagú. Muita gente espera ter uma experiência de uns 10 anos de mercado pra começar a pensar em abrir uma agência, mas tanto eu como a Ana, sempre tivemos um espírito empreendedor muito forte, uma vontade de ser independente.

E aí pintou a oportunidade de atender um cliente e nós achamos que era uma boa chance de entrar no mercado, o que não acontece sempre. E nós decidimos agarrar essa chance.

Mas tudo meio que começou na fculdade ainda, onde a gente tinha um grupo que sempre fazia os trabalhos juntos, os freelas, no qual faziam parte eu, a Ana, e outras colegas. E numa dessas, nós fizemos um planejamento anual para o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura). E eles gostaram tanto do trabalho que nos ofereceram a oportunidade de cuidar da conta. E como não dava para atender como freela, eu trabalhava na AMP a Ana, na Múltipla, e era uma correria, então seria impossível conciliar tudo. Então a vontade de ter uma agência teve que ser adiantada. No começo nós eramos 4, mas acabou que para abrir a agência ficou só eu e a Ana. E aí surgiu a Pagú.


No Brasil, infelizmente, quem tem esse espírito empreendedor é visto ou como aventureiro ou como louco. Tanto que o grande sonho hoje da maioria da população é o funcionalismo público. Qual foi a maior dificuldade para vocês em abrir a agência?

Bom, nós fomos vistas como as duas coisas, aventureiras e loucas. Muita gente disse que nós iríamos quebrar a cara no mercado. Mas resolvemos encarar mesmo assim. Acho que a maior dificuldade mesmo até agora foi montar a equipe. Não só montar uma equipe pra brigar no mercado, mas também lidar com ela, como nós somos novas, temos a dificuldade em exercer a figura de chefe. Agente não quer ser vista também como autoritárias, ou como quem manda. Não é esse o modelo que nós queremos pra agência. Acho que também o fato de ser uma agência pequena dificulta a formação da equipe, não dá pra trazer profissionais já formados, com muita experiência. Tanto que o Daniel, o nosso diretor de arte, foi uma grande conquista quando ele apostou no projeto e topou vir pra Pagú. Ele já tem uma boa experiência, trabalhou na Inédita, na Cannes, uma agência que tem 50 anos. Tanto que nós brincávamos que ele trocou uma agência de 50 anos por uma de 5 meses. E foi um grande passo a chegada dele, hoje os nossos trabalhos têm mais qualidade, é claro que temos muito o que alcançar ainda. Mas estamos no caminho. Estamos também com 2 estagiários que serão contratados a partir de janeiro. A gente faz questão de cumprir todas as leis trabalhistas direitinho, todo mundo tem carteira assinada, tudo bonitinho.

O que dificulta também, porque os impostos de uma agência de publicidade são muito altos. Eu não tinha noção de que era tão caro manter uma agência. Tudo é muito difícil, tem que ser tudo na ponta do lápis.



Foto: As duas sócias em matéria sobre empreendedorismo para o jornal O Popular.

E a falta de bagagem atrapalha?

Atrapalha. Mas o que a gente faz é correr atrás, comer pelas beiradas. porque a gente não tem uma bagagem grande, uma trajetória longa, então nós lemos muito e contamos com parceiros. No começo, foram amigos mesmo que davam uma força sem cobrar nada. A nossa equipe é pequena, então quando pinta um trabalho grande, a gente contrata freela, pede ajuda e se cerca sempre de gente experiente.

E quanto a bagagem na parte criativa, a gente está indo sem ela mesmo. A gente vai chegando aos poucos.

Fazendo e aprendendo?

Isso. Fazendo e aprendendo.


E como os clientes reagem quando dão de cara com duas meninas, por assim dizer, duas profissionais tão jovens?

Pois é, chega a ser engraçado. No começo, logo que abrimos a agência, saímos batendo nas portas, marcamos muitas reuniões. E teve um caso que foi muito engraçado. Nós ligamos, combinamos a reunião e quando chegamos, ficamos esperando na recepção, sentadas. E quando ele chegou, nem imaginou que éramos nós. A recepcionista o avisou: "As senhoras da Pagú estão aí". Ele olhou e nem disfarçou, já disparando um: "Nossa! Mas vocês são muito novas!".
E então saiu dizendo que já nos chamaria. Eu olhei pra cara da Ana Luiza e perguntei o que a gente faria? Ela respondeu: "Rugas?" (risos) Não tem mais o que fazer, né? Mas eu não diria que isso seja um problema, na verdade, costuma ser uma surpresa. E a gente quebra qualquer barreira logo no começo quando apresenta o trabalho. E estou sendo bem sincera com você, nem estamos tendo problemas com isso. Isso acaba se tornando uma vantagem até. Porque muitos associam o fato de sermos novas com a possibilidade de com isso ganhar com idéias novas, a nossa vontade de fazer um bom trabalho. As pessoas levam a nossa pouca idade mais pelo lado positivo. E qualquer receio por parte do cliente tem sido superado já no primeiro trabalho. Seja o que for, desde um simples cartão de visita. A gente faz dele o melhor que pode. A vantagem do nosso negócio é que nós vendemos a idéia. Não importa se a agência tem 30 ou 300 metros quadrados, o que importa é a qualidade da idéia. Não importa nem se a idéia é do estagiário ou do diretor de criação.


E vocês sofrem algum preconceito por serem mulheres à frente de uma agência de publicidade?

A gente chegou a ter medo de isso acontecer. Mas eu acho que não tem acontecido. Qualquer receio é mais pela nossa idade do que por ser mulher. Ainda não tivemos nenhum problema do tipo. Mas todo mundo pergunta, até por brincadeira, como é que é a agência? Se tem só mulher aqui? Mas por brincadeira mesmo.


Na opinião da Pagú, o que a diferencia das outras agências locais?

Acho que o principal mesmo é a nossa vontade. Porque quando abrimos a Pagú, não queríamos ser mais uma agência, e sim fazer diferença. Essa sempre foi uma preocupação nossa mesmo na época em que trabalhávamos em outros lugares, não ser mais um. Tanto eu como a Ana, sempre sonhamos em nos destacar e sempre corremos atrás disso. Chegamos até a conversar sobre isso, que se fosse para ser mais uma, nem abriríamos. Então ser diferente sempre foi uma preocupação nossa. E é com muita pressa. Porque assim que e gente teve pressa, não esperamos criar uma bagagem, justamente pra não ser pesada pra carregar. Nós fomos mesmo é com bagagem de mão. (risos) A gente não quer esperar ter cinco anos de Pagú para ser conhecida para que as coisas aconteçam. Nós corremos atrás pra fazer acontecer, temos pressa que Pagú aconteça. Lógico que nós mantemos os pés no chão, mas não deixamos de ter pressa. Mas não me entenda mal. Não é que a gente queira chegar bombando. A gente sabe que temos um caminho a percorrer. Mas só queremos percorrê-lo correndo. (risos)


As maiores agências do mercado goiano contam com boa parte do seu faturamento vindo de anunciantes do varejo, de concessionárias e da construção civil. E esses foram um dos primeiros a sentirem os efeitos da crise. A Pagú, por ser uma empresa com clientes menores, já sentiu os efeitos dela também?

A gente já sofreu. Nós acabamos de fazer um trabalho para uma construtora, um trabalho grande, e essa contrutora acabou de perder 90% na bolsa. E a gente estava crente que a crise não tinha chegado por aqui. Claro, a campanha que nós fizemos pra essa construtora ficou congelada. Um outro cliente da agência, uma mineradora que atua no Tocantins, na Bahia, Brasília, nós fizemos uma campanha completa pra eles, mas por agora só vai ser veiculado e produzido o VT. O setor primário da economia também foi um dos afetados com a crise.

Mas a gente percebe que mesmo aqueles clientes que não foram muito afetados pela crise foram contagiados pelo medo. Parece que o medo se generalizou e acabou virando um motivo para não investir em comunicação agora.

Mas o nosso principal cliente hoje é o CREA e como ele não vende um produto e tem uma comunicação mais institucional, então a crise não afetou o trabalho.


A Pagú tem se destacado criativamente, a agência foi vencedora do Prêmio ANJ na etapa da Região Centro-Oeste, Minas e Espírito Santo. E foi até São Paulo disputar a etapa nacional com as outras finalistas regionais. Que acabou sendo vencida pela Lew, Lara/TBWA. O que vocês têm sentido, o mercado tem valorizado a qualidade criativa da agência? Como vocês fazem pra vender isso ao clientes?

Eu acho que os clientes já esperam da gente criatividade pelo fato de sermos jovens. Como as outras empresas já possuem mais tradição, cases de sucessso baseados em números de crescimento de marcas, elas costumam apresentar argumentos muito racionais. E a Pagú, por não ter esse retrospecto, acaba tendo que se destacar pelo resultado criativo mesmo. Lá em São Paulo, todo mundo ficava impressionado quando ficava sabendo que em apenas três meses de agência, nós já tínhamos feito o anúncio que estava lá disputando com as grandes agências do país. Um feito inédito para uma agência de Goiânia. Impressionados até com a ousadia da gente se inscrever e concorrer ao prêmio com uma peça simples, que custou apenas quatro mil e quinhentos reais contra uma de trezentos mil. Nossos clinetes têm visto isso como uma prova da seriedade do nosso trabalho. Isso é muito legal. A Itafoz, que é a mineradora que nós estamos atendendo e criamos um filme de um minuto, na reunião de apresentação, o cliente disse ter pesquisado um pouco sobre a Pagú e viu que tínhamos sido premiadas no ANJ e que saímos numa reportagem. A gente acha que o cliente não está ligado, mas é o dinheiro dele que está em jogo. Ele quer saber se pode confiar na agência que está cuidando da sua comunicação.

Como você disse, as empresas mais tradicionais se vendem com cases de resultados numéricos e crescimento, e vocês têm utilizado a criatividade como diferencial. E quando a Pagú for tradicional? Ela vai ser uma agência de números ou de criatividade?

A gente não quer perder essa essência criativa nunca. Aliás, nenhuma agência quer. O que nós queremos é com tempo aliar um portifólio de criatividade com resultados. E o resultado já veio com o CREA. A gente fez um VT, logo outro cliente ficou sabendo, deu uma oportunidade pra gente também. Outra conquista foi começar a mudar a imagem do CREA como um órgão que só arrecada, para isso a nossa primeira campanha inteira foi em cima da valorização do profissional. E um bom resultado foi que o presidente do CREA conseguiu eleger o seu successor nas eleições desse ano. Isso não deixa de ser um resultado da comunicação.



Foto: Anúncio vencedor do Prêmio ANJ na etapa regional Centro-Oeste, Minas e Espírito Santo, criado para o CREA GO.


Quais são as perspectivas da Pagú para 2009?

Nós sempre dizemos que nesse um ano envelhecemos uns dez anos. Porque aprendemos muito nesse tempo. Começamos a agência só nós duas, logo contratamos um estagiário de direção de arte, a equipe cresceu e superou as nossas espectativas. Até criativamente. Porque até pode ser que prêmio não seja o mais importante para os clientes da agência, mas é um sinal de que estamos no caminho certo. Para 2009, a gente vai se planejar pra aparecer mais no mercado, prospectar mais, porque esse ano a nossa atuação foi mais tímida. O que é natural. Mas esse ano que vem, nós vamos partir pra cima mesmo, se apresentando pros médios e grandes anunciantes, sem receio. Pretendemos também mudar a sede da agência porque já estamos precisando de uma estrutura maior. Com essa experiência adquirida esse ano e com um portifólio concreto para apresentar, a gente acredita que tem tudo pra crescer ainda mais.

Última pergunta. Tem vaga na Pagú?

Em qualquer agência de propaganda sempre tem vaga para bons profissionais.

Saiba mais acessando o site da Pagú, clique aqui.


2 comentários:

Dóris Lene disse...

Brilhante entrevista Paulo! Conheci as meninas na época da facú, trabalhei na mesma agência que a Ana durante um tempo e é notório o que elas fazem e como fazem. Sou do tipo que acredita que a idéia vence sempre e fico feliz em saber que novos empreendedores com esse tipo de mentalidade estão surgindo. Eu que já fiz textos pra Governo, Varejo e Concessionária sei bem como funciona a relação números x criatividade rss. Às vezes a gente até tem vontade, mas o mercado vem podando pelo meio, na essência da coisa, e a idéia se perde. Junto com isso, os profissionais vão se acomodando e perdendo também a vontade em fazer diferente. Vão perdendo a dedicação e esquecendo da importância de sair do próprio eixo para ganhar novos ares. Não renovam o olhar e o pensamento com vernissages, livros ou mesmo visitando e conhecendo o jeito de fazer de grandes agências. Perde-se essa inovação que a Pagú está resgatando. E elas vão além, apostam e trazem resultados aos clientes. Aliás, fica uma dica se é que você ainda não viu: o discurso publicitário é matéria da capa da Revista Língua Portuguesa desta semana. Vale a pena dar uma conferida. Parabéns pelo blog e pela iniciativa de trazer matérias tão interessantes. Às meninas, ficam meus aplausos de pé.

Thâmara Sampaio

Paulo Zarat disse...

Obrigado, Thâmara. Vou conferir agora mesmo a revista. Beijo