Por Bruno Medina
E lá estamos nós, vivendo os últimos dias do ano. Mesmo que desejasse seria difícil escrever sobre outro tema que não a iminência de 2009, preste a começar; é que o assunto se impõem de maneira avassaladora ainda que natural, se é que isto é possível.
Reparem como a época é imperativa no que se refere ao nosso estado de espírito: até dia 25 o aconselhável é sempre ceder à onda de generosidade e de amor ao próximo que assola o ocidente. E nem adianta tentar resistir, porque nosso olhar já está condicionado ao outro e às suas necessidades, à harmonia, à caridade, e ai de você se, no caminho das compras, não ficar com os olhos marejados ao cruzar com um coral, mesmo que desafinado.
Nos 7 dias seguintes o Natal passa a ser muito piegas. Todo aquele sentimentalismo meloso começa a provocar urticárias nos menos emotivos. Papai Noel vira o mala da vez e as lojas se apressam para encher suas vitrines de branco. É chegado o momento de sentir otimismo e esperança, e ai de você se não manifestar a intenção de se acabar na noite da virada.
Desde pequeno sempre estranhei esta semana que se espreme entre as duas festas, uma espécie de limbo em que nada costuma ocorrer de fato. Pobres jornalistas, em meio ao marasmo, imbuídos da árdua missão de preencher as páginas com notícias. Parece até que o tempo anda mais devagar, e talvez por saber disso os acontecimentos prefiram evitar esta espécie de “buraco negro” que existe em dezembro.
Guardam-se para os primeiros dias do mês seguinte, onde agora se concentram todas as atenções. A exceção fica por conta deste conflito na Faixa de Gaza, que aparentemente resolveu confrontar a escrita. Preferiu a sombra do apagar das luzes de 2008 aos holofotes do ano recém-começado.
Ontem fui buscar um copo d’água na cozinha e reparei que a folhinha sobre o microondas já estava em janeiro. Como assim? E os 2 dias que ainda faltam, deixaram de existir? Se nada se espera desta semana natimorta por que não mudamos o calendário e pulamos do Natal direto para 1o de janeiro? Quem sabe assim o recesso seria mais proveitoso?
Se bem que não iria adiantar. Porque, tão logo estivermos em janeiro, o único assunto vigente será o Carnaval. Há até quem diga que só mesmo depois da folia é que o ano começa oficialmente no Brasil. Então por que não emendamos logo 25 de dezembro com 1o de março, pra acabar de vez com este lengalenga? Um ano de 10 meses, mais enxuto, mais dinâmico. Só de pensar na possibilidade dá até um desânimo em relação ao modelo convencional.
Já pararam para pensar o quanto ainda teremos pela frente?
Um carro alegórico vai pegar fogo ou quebrar na Sapucaí, atrasando o desfile das outras escolas. Um casal famoso irá se envolver num exaustivamente noticiado triângulo amoroso, uma tragédia natural devastará alguma parte do globo e algum conflito vai agravar as já delicadas relações diplomáticas entre 2 países.
A crise atingirá ainda mais as nações emergentes e um escândalo político de grandes proporções balançará o centro do poder em Brasília. Como eu sei disto tudo? Aponte um ano que não tenha sido assim. Então por que não passamos de 2008 para 2010 sem escalas? Pelo menos é ano de Copa do Mundo…
Nada disso! Apesar das previsões pessimistas para a economia, dos fatos que insistirão em se repetir, apesar de ainda ter 12 meses e não ser ano de Copa, acredito que 2009 será ótimo. Porque a surpresa sempre vem de onde menos se espera, né?
Então… Feliz Ano Novo!
Bruno Medina é músico da banda Los Hermanos e escritor nas horas vagas. Nascido no Rio de Janeiro, formou-se em comunicação pela PUC-RJ, mas a música nunca permitiu que chegasse ao mercado publicitário. Começou a tocar piano e escrever histórias ainda criança, sendo que as duas aptidões o acompanham desde então.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
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