sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Lado B de Angelo Martorell

Tão difícil quanto nunca ter visto um comercial criado por ele é você nunca ter dançado ao som do Lado B de Angelo Martorell, que se divide entre a redação, na AMP, e a atividade de DJ residente do 5ªtiva, no Martin Cererê. Formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda pela UFG. Em 2004, foi o Publicitário do Ano no Prêmio Jaime Câmara. Mas o Filé foi até lá pra dançar um pouco e conhecer melhor o DJ Angelo Martorell.

Foto: Samuka

Filé060: O que começou primeiro, o lado DJ ou o lado publicitário?

Angelo: Começaram juntos. Eu comecei a discotecar enquanto estudava. O meu interesse pela música é antigo, desde a adolescência eu adorava ouvir músicas com meus amigos. Quando entrei na faculdade, os dois caminhos começaram a andar juntos. Tanto é que eu não optei por usar um nickname como DJ, preferi usar o meu nome para que o lado da publicidade ajudasse no lado de DJ e vice-versa.

Filé060: E como esses lados contribuem um com o outro?

Angelo: O DJ está sempre em contato com pessoas jovens, com novas tendências em relação à arte, moda, comportamento e cultura em geral. E é muito importante para a publicidade ter noção dessas tendências. E isso reflete na minha criação, esse contato me permite criar um trabalho diferenciado. Para mim, ser criativo é você tentar ser diferente nas idéias.

Filé060: Você estuda música assim como você estudou publicidade? Você já freqüentou alguma escola de música ou uma escola de DJ?

Angelo: Não, eu até gostaria de ter uma formação musical, para ajudar na discotecagem. Eu aprendi praticando, mas isso interfere, você pode ter as melhores músicas, mas se você não tiver o domínio técnico, não souber fazer a coisa soar bem, construir esse ambiente musical, a coisa se perde, é como num filme que em um momento romântico entra a música errada.

Filé060: Como você definiria seu estilo como DJ?

Angelo: Eu definiria como nu groove. É um termo um pouco complicado, o nu é uma abreviação de new. Tudo que for uma releitura e tiver uma pegada eletrônica a gente usa o prefixo nu. Hoje nós temos o nu funk, o nu jazz e o new groove. Groove, apesar de não ser uma definição musical, é um bom termo pra definir o som. Já discotequei desde samba até house music, mas hoje me especializei mesmo em nu groove, nu funk e break beat.

Foto: Samuka

Filé060: Tanto o lado publicitário quanto o lado de DJ têm uma preocupação em ser original. Qual desses é o mais difícil?

Angelo: Acho que os dois têm basicamente o mesmo processo, Tanto para ser um bom DJ quanto para ser um bom publicitário, você tem que ter pesquisa. Pesquise seu material de trabalho, pesquise sua matéria-prima, no caso a música ou a informação e transforme aquilo em um produto. Você consegue reunir as músicas que pesquisou, selecionar e fazer delas um set interessante. Você pega toda a informação que leu e faz um texto interessante. E é necessário o talento para fazer com que aquilo surpreenda as pessoas. Enfim o processo é muito similar. Em ambos, você deve tentar entender o quê que o público quer. O DJ trabalha muito com a reação das pessoas, ele vê quando as pessoas estão gostando ou não. Assim como o publicitário deve buscar agradar o seu público.

Filé060: Qual lado você gosta mais?

Angelo: As pessoas já perguntaram, você quer ser publicitário ou quer ser DJ? Eu tenho muito gosto pelas duas, mas minha profissão principal é a de publicitário, é a profissão que me sustenta. Hoje em dia a idéia é que meu trabalho como DJ seja menos freqüente, mas tenha mais qualidade.

Filé060: Então hoje você concentra a sua atividade na publicidade e em alguns convites esporádicos como DJ?

Angelo: É, eu recebo alguns convites para tocar em alguns lounges e em vernisages. Também toco nos festivais de música eletrônica, que foi onde eu comecei. Em dezembro, eu toquei em São Paulo na Tribe, toquei vários festivais na Bahia, e também vou às festas e festivais de música eletrônica. Onde a minha proposta é um pouco mais eletrônica, psicodélica, até porque nos festivais a pegada é um pouco mais diferente.

Filé060: Na publicidade a gente busca várias referências como em vídeos, fotografias, anuários. E na música? Onde você busca referências?

Angelo: Acho que a primeira referência que a gente tem vem da formação musical. Eu considero que meu pai me influenciou muito por me apresentar a black music. Eu cresci ouvindo Kool and the gang, muita discoteca e muito funk. Hoje em dia, o meu som tem muito dessas influências. Eu também procuro buscar uma técnica e um som novo nos DJ’s internacionais, é interessante você ver como eles trabalham. Hoje , tem muita releitura. Releitura de black music e de faixas antigas com uma pegada diferente. Na Internet, o Myspace é um bom canal para ouvir coisas novas, é onde as produtoras e os artistas lançam primeiramente o trabalho, além de ser um bom canal de comunicação entre os artistas.

Filé060: E que música que você gosta de ouvir pra criar?

Angelo: Para criar, eu geralmente escuto só aquilo que eu vou tocar, porque ando com pouco tempo, aí quando eu tenho oportunidade escuto aquilo que eu toco. Preferencialmente músicas sem vocal, a voz cantando me atrapalha um pouco, porque na música eletrônica a batida é mais freqüente.

Filé060: Os dois andam bem juntos?

Angelo: Andam, da mesma forma que um guitarrista poderia ser um publicitário e um artista plástico também conseguiria ser. E nada mais é do que mais uma forma de expressar a criatividade. A publicidade em si é até um pouco limitada, na questão musical e artística, apesar de eu não criar a música, eu posso construir ambientes que sejam interessantes pra você dançar, pra conversar, pra namorar, pra ficar com alguém. E aqui eu tenho até mais liberdade.

Filé060: Qual é o ambiente que você gosta mais de criar?

Angelo: Depende do seu clima, tem dia que a batida está mais acelerada, o ritmo vai variando. Varia de acordo com o horário de trabalho, quando eu toco no começo, o som é um pouco mais devagar, quando é mais pro final eu já acelero um pouco. O meu estado de espírito reflete muito no meu som, assim como na publicidade. Isso acontece com todo o artista, apesar de eu considerar prepotência chamar o DJ de artista. O legal de não tocar freqüentemente é isso, você acaba tocando só pelo prazer.

Filé060: Por que o DJ não pode ser considerado artista pra você?

Angelo: Porque o DJ tem a matéria-prima pronta, você junta aquelas informações uma na outra para criar algo que seja agradável pra quem está ouvindo. Não existe uma criação de produto, existe uma transformação de produto.

Filé060: Para o publicitário não é bom ter uma característica definida, como quando você olha um trabalho e reconhece o autor. Eu imagino que pro DJ seja positivo ter uma assinatura. É bom quando as pessoas reconhecem o seu trabalho, ou é preferível ser versátil, nunca saberem quem está tocando?

Angelo: O bom DJ tem algumas características, ele deve misturar técnica e pesquisa. É aquele DJ que apresenta novidades, que sabe misturar as músicas, e que sabe colocar a música certa na hora certa. Considerando esses aspectos, é interessante que o DJ tenha uma linha, mas ela tem que ser mais abrangente. Ele pode variar, pode misturar, contanto que essa mistura seja coerente com o estilo. A boa característica do DJ não é tocar um único estilo de som, ele pode tocar vários e ainda fazer isso soar bem.

Filé060: Você se considera um Publicitário-DJ ou um DJ-Publicitário?

Angelo: DJ-Publicitário-DJ–Publicitário-DJ-Publicitário (risos).

Foto: Samuka

3 comentários:

Eclesiastes Junior disse...

Sacode neguim, que seu som é muito bacana!

ps.: nem chaaaama!

Ciro Castro disse...

Da-lhe Angelito!

Abs!

Oric

Bendita Januária e outras histórias disse...

Tenho que confessar que adoro o lado B do Ângelo!!! Bom menino!! :-)

beijocas...